Paramount faz oferta hostil de US$ 108,4 bilhões pela Warner
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (8) que nem a Netflix nem a Paramount Skydance são suas “grandes amigas”, após as duas empresas apresentarem propostas para adquirir a Warner Bros. Discovery.
“Eu conheço muito bem as empresas. Sei o que estão fazendo, mas preciso analisar, preciso ver qual porcentagem de mercado elas têm. Nenhuma delas é, particularmente, uma grande amiga minha”, disse Trump durante uma mesa-redonda na Casa Branca.
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A declaração do republicano veio após a disputa pelo controle da Warner ganhar um novo capítulo nesta segunda-feira. A Paramount fez uma oferta hostil de US$ 108,4 bilhões para assumir a empresa, elevando a pressão sobre um cenário já agitado desde a semana passada, quando a Netflix anunciou um acordo de mais de US$ 70 bilhões para comprá-la.
🔎 Uma oferta hostil é uma tentativa de aquisição em que uma empresa tenta comprar outra sem o apoio da diretoria ou do conselho da empresa que está sendo alvo. Em vez de negociar “amigavelmente” com os executivos, quem faz a oferta vai direto aos acionistas, normalmente oferecendo um valor atrativo pelas ações para tentar assumir o controle.
A investida amplia a disputa e reacende a pressão sobre as negociações, que já movimentavam Hollywood, reguladores e até o presidente dos Estados Unidos desde o anúncio do acordo da Netflix.
Além disso, a ofensiva também marca a escalada de uma série de tentativas frustradas da Paramount para assumir o controle da Warner nos últimos meses.
Desde setembro, o estúdio apresentou várias propostas para formar um novo conglomerado de mídia capaz de competir com gigantes como a própria Netflix e empresas de tecnologia como Apple, que já avançam no setor de entretenimento. Todas essas ofertas foram rejeitadas.
💰 Na proposta de hoje, a Paramount colocou sobre a mesa US$ 30 por ação, acima do valor de quase US$ 28 por ação oferecido pela Netflix na semana passada. O pacote total, incluindo o valor da compra e da dívida para ser assumida, chega a US$ 108,4 bilhões.
Mesmo que a proposta atraia os acionistas, o caminho não será fácil. A oferta deve ser analisada de perto pelos órgãos antitruste, que avaliam se fusões desse porte podem comprometer a concorrência no mercado.
Netflix anuncia acordo de compra
A reação da Paramount acontece apenas três dias depois do anúncio que movimentou o setor. Na sexta-feira (5), a Netflix saiu vitoriosa de uma guerra de lances que envolveu, além da Paramount, a Comcast.
O acordo — avaliado em US$ 72 bilhões apenas pelos ativos de TV, cinema e streaming da Warner — foi recebido com choque por executivos de Hollywood, sindicatos, cineastas e reguladores nos EUA e na Europa.
A aquisição daria à Netflix um catálogo imenso, incluindo marcas globais como HBO e Warner Bros. Pictures. Para críticos, a união representaria um nível de concentração sem precedentes no entretenimento.
Sindicatos alertaram para risco de demissões em massa e redução de salários. Concorrentes falaram em ameaça ao equilíbrio competitivo no streaming.
Já cineastas temeram queda na produção de filmes para cinema, já que a Netflix privilegia lançamentos diretos na plataforma.
A Netflix, por sua vez, demonstrou convicção: aceitou incluir no acordo uma multa de rescisão de US$ 5,8 bilhões, caso a fusão não seja aprovada por reguladores.
Trump afirma que vai participar de decisão sobre Netflix e Warner
A disputa ganhou um peso político inesperado. A compra da Warner Bros. Discovery pela Netflix foi comentada publicamente pelo presidente Donald Trump, que afirmou que a participação de mercado do novo grupo “poderia ser um problema”.
Trump também disse que pretende acompanhar de perto o processo conduzido pelo Departamento de Justiça, órgão responsável por avaliar se a fusão viola regras de concorrência e prejudica consumidores ou rivais.
Nesta segunda-feira, o conselheiro econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, afirmou que a análise do Departamento de Justiça deve durar “um bom tempo”, indicando que a fusão não será aprovada rapidamente.
Além das pressões políticas e regulatórias, a Warner também enfrenta críticas da própria indústria. Sindicatos, como os que representam roteiristas e atores, expressaram preocupação com uma possível redução da produção cinematográfica e aumento de custos para consumidores.
Analistas de mercado também estão divididos: parte vê risco de “destruição de valor” na fusão; outros avaliam que a Netflix pode dar um salto estratégico ao incorporar uma das bibliotecas mais valiosas do mundo.
Movimento “hostil” da Paramount
Antes mesmo da proposta hostil, a Paramount já vinha contestando a forma como o processo de venda foi conduzido pela Warner.
Em carta enviada à empresa na semana passada, o estúdio afirmou que a negociação com a Netflix foi “tendenciosa” e que o processo teria “predefinido” a plataforma como vencedora.
A Paramount argumenta ainda que a fusão criaria um grupo com 43% do mercado global de streaming, o que, segundo seus advogados, violaria leis antitruste americanas.
Com a oferta desta segunda-feira, a Paramount tenta reverter o resultado da disputa. A empresa, que permanece entre os principais estúdios de Hollywood, vive um momento de desempenho irregular nas bilheterias e tenta usar a aquisição para recuperar protagonismo.
Na perspectiva da Paramount, a Netflix não deve ser o destino da Warner porque isso aprofundaria a concentração de mercado em um setor já dominado por poucos jogadores.
Ao apresentar uma oferta hostil, a Paramount tenta pressionar não só os acionistas da Warner, mas também reguladores, que já estão preocupados com o impacto do acordo com a Netflix.
O objetivo é mostrar que existe um comprador alternativo — um argumento que pode pesar nas avaliações antitruste.
*Com informações da agência de notícias Reuters
Ilustração mostra um modelo em miniatura em 3D impresso de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, diante do logo da Warner Bros.
Reuters
Fonte: Valor Econômico