Brasil é o 5º país mais desigual, diz estudo de Piketty – 09/12/2025 – Mercado

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Brasil é o 5º país mais desigual, diz estudo de Piketty - 09/12/2025 - Mercado

O Brasil ocupa o quinto lugar entre 216 países em novo relatório global sobre desigualdade de renda.

Os 10% dos brasileiros no topo da pirâmide de rendimentos per capita capturam 59,1% da renda nacional, enquanto a metade mais pobre fica com apenas 9,3%. O país aparece atrás apenas de África do Sul, Colômbia, México e Chile.

Em relação à concentração da riqueza, que inclui ativos financeiros e outros bens, como imóveis e aplicações, o Brasil está na sexta posição. Os 10% mais ricos detêm 70% do total, e o 1% no topo, mais de um terço.

Os dados constam da terceira edição do Relatório da Desigualdade Global, realizado pela rede do World Inequality Lab, sediado na Paris School of Economics, que inclui mais de 200 pesquisadores em todos os continentes liderados pela equipe do economista Thomas Piketty. O francês é autor de best-sellers sobre o tema, incluindo “O Capital no Século 21” (2013).

Em relação à riqueza, segundo o documento de 206 páginas, o 0,001%, que representa 56 mil pessoas pelo mundo, detém três vezes mais patrimônio do que o de toda a metade mais pobre adulta do planeta combinada (2,8 bilhões de pessoas).

Levando em conta os 10% mais ricos da população, eles se apropriam de 75% da riqueza global, enquanto a metade mais pobre fica com apenas 2%.

Desde a década de 1990, a riqueza de bilionários e centimilionários (patrimônio líquido superior a US$ 100 milhões) cresceu a uma taxa de aproximadamente 8% ao ano, quase o dobro do ritmo experimentado pela metade mais pobre da população.

“O resultado é um mundo em que uma pequena minoria detém um poder financeiro sem precedentes, enquanto bilhões permanecem excluídos até mesmo da estabilidade econômica básica”, diz o relatório. Em quase todas as regiões do mundo, o 1% mais rico detém sozinho mais riqueza do que os 90% mais pobres juntos.

O relatório aponta também que o sistema financeiro global opera largamente a favor dos países ricos. O que antes era descrito como o “privilégio exorbitante” dos Estados Unidos —empréstimos baratos graças ao papel do dólar como moeda de reserva, enquanto investem no exterior com retornos mais altos— expandiu-se para uma vantagem sistêmica desfrutada pelas economias avançadas.

Em nível global, cerca de 1% do PIB mundial flui anualmente dos países mais pobres para os mais ricos por meio de transferências líquidas de renda associadas a rendimentos e aplicações. Isso equivale a quase três vezes o valor da ajuda global a países em desenvolvimento.

Seguindo a metodologia de Piketty no livro “O Capital do Século 21”, o estudo inclui no conceito de renda tanto rendimentos do trabalho quanto o pagamento de sistemas de seguridade social. A renda é medida antes da aplicação de impostos.

Os dados dos diferentes países são equalizados pelo conceito de paridade do poder de compra, que ajusta o valor do dinheiro ao custo de vida local, em vez da taxa de câmbio de mercado.

No caso da riqueza, ela é definida como a soma dos ativos financeiros (ações, títulos públicos) e não financeiros de propriedade (imóveis, participações em empresas), menos as dívidas.

Os dados são obtidos de fontes oficiais, como registros fiscais, pesquisas domiciliares e dos sistemas de contas nacionais dos países, que fornecem definições padronizadas de rendimentos e riqueza.

O estudo usa a Razão T10/B50: quantas vezes a renda média do Top 10% (mais rico) é maior do que a renda média do Bottom 50% (mais pobre). Assim, um país com 55% da renda concentrada no topo não será necessariamente mais desigual do que um com 50%.

Avaliando políticas públicas em vários países, os autores afirmam que tanto a tributação mais progressiva (cobrar mais de quem ganha e tem mais) quanto programas de distribuição de renda (como o Bolsa Família) são instrumentos para atenuar a concentração de renda.

Segundo o relatório, os muito ricos hoje pagam proporcionalmente menos impostos do que quem ganha ou tem menos, e os bilionários encontram inúmeras brechas para deixar de pagar tributos ou migrar valores para regiões onde a carga tributária é menor.

Nesta terceira edição, o Relatório da Desigualdade Global dedicou algumas páginas à crise climática. A metade mais pobre da população mundial, diz o documento, é responsável por apenas 3% das emissões de carbono associadas à propriedade de capital privado (participação em empresas), enquanto os 10% mais ricos respondem por 77% das emissões.

O 1% mais rico, sozinho, é responsável por 41% das emissões da propriedade de capital privado, quase o dobro da soma das emissões de todos os 90% mais pobres.

“Aqueles que menos emitem, em grande parte as populações de países de baixa renda, são também os mais expostos aos impactos climáticos. Enquanto isso, os mais poluentes estão protegidos, com recursos para se adaptar ou evitar as consequências das mudanças climáticas”, diz o documento.

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Fonte: Folha SP

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