Apple e Índia se estranham (de novo) por app de rastreamento – Meio Bit

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Apple e Índia se estranham (de novo) por app de rastreamento – Meio Bit

A Apple tem um relacionamento um tanto conturbado com o governo da Índia: em outubro de 2023, a companhia acusou o gabinete do primeiro-ministro Narendra Modi de instalar o spyware Pegasus nos iPhones de membros da oposição e jornalistas, no que a resposta veio na forma de pressão para “pegar leve” nas declarações.

Agora, Cupertino voltou a peitar o governo indiano, ao se recusar a instalar em seus dispositivos um novo app estatal obrigatório, de rastreio e bloqueio do IMEI para fins de segurança dos usuários, alegando proteger a privacidade de seus consumidores.

Apple e Índia voltam a se desentender por questões referentes a privacidade (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Apple vs Índia, Round 2

O problema gira em torno de um app chamado Sanchar Saathi (“Parceiro de Comunicações” em hindi), que funciona de modo similar ao programa Celular Seguro do governo brasileiro: ele é escorado em um registro nacional centralizado de todos os números IMEI de dispositivos móveis do país, de modo que quando um gadget é reportado como roubado às autoridades, este é bloqueado e pode ser rastreado, independente de onde esteja; ele também pode identificar conexões fraudulentas de IMEIs duplicados, usados em golpes.

O governo indiano reporta que desde que o Sanchar Saathi foi implementado em janeiro de 2025, em caráter facultativo (instalação opcional), ele foi baixado mais de 5 milhões de vezes em iPhones e dispositivos Android, teria bloqueado mais de 3,7 milhões de aparelhos, e encerrado mais de 30 milhões de conexões ilegais.

Porém, no dia 28 de novembro de 2025, o Departamento de Telecomunicações da Índia (DoT) emitiu um comunicado confidencial, dizendo que o Sanchar Saathi se tornará um app obrigatório, a ser pré-instalado em todos os dispositivos móveis novos registrados no país; aparelhos já em lojas ou em uso em que o app não foi baixado pelos usuários deverão ser submetidos a atualizações obrigatórias, para o download e ativação do mesmo.

A ordem, segundo a agência Reuters, teria sido enviada a companhias selecionadas, aquelas que mais vendem aparelhos no território indiano, no caso, Apple, Samsung, Xiaomi, Oppo, e Vivo (JOVI no Brasil); todas teriam 90 dias para garantir que seus dispositivos saiam das caixas com o app estatal pré-instalado.

O DoT defendeu a medida, após o comunicado confidencial ser exposto pela mídia, como necessária para combater roubos e crimes cibernéticos, mas analistas de segurança críticos à iniciativa apontam que, como o Sanchar Saathi tem acesso a todos os IMEIs ativos e legais do país, e pode rastreá-los a qualquer momento, conforme o governo Modi assim desejar, ela não seria diferente de uma ferramenta de vigilância estatal.

A ideia original de que o aplicativo não pudesse ser desinstalado ou desativado pelo usuário só ajudou a reforçar tais preocupações; no Brasil, ao menos por enquanto, o Celular Seguro não é obrigatório.

App pode rastrear qualquer um a qualquer momento, mas governo indiano jura que é para o seu bem (Crédito: Mr.Mikla/Shutterstock)

E tão certo quanto dois e dois são quatro, a Apple se posicionou contra a medida.

Três fontes próximas à empresa ouvidas pela Reuters disseram que a maçã não pretende pré-instalar o Sanchar Saathi em nenhum de seus dispositivos disponíveis na Índia, sejam novos ou em uso, e pretende apresentar uma queixa formal ao governo de Nova Deli, questionando a imposição do aplicativo.

Embora nenhuma fabricante tenha se manifestado oficialmente sobre a decisão do governo indiano em impor a instalação do Sanchar Saathi em seus produtos, a informação de que a Apple, a segunda companhia mais valiosa do mundo (US$ 4,23 trilhões, ou ~R$ 22,5 trilhões, cotação de 03/12/2025), se posicionaria contra o governo, levou a um mais do que esperado caos na mídia e opinião pública, o que acabou forçando o gabinete de Modi a por panos quentes na situação.

Pouco tempo após a Reuters publicar em primeira mão a suposta posição da maçã sobre o assunto, o DoT veio a público dizer que “não é bem assim” que as coisas serão:

Em uma postagem no X, o DoT publicou uma declaração do ministro das Comunicações, Jyotiraditya Scindia, dizendo que o usuário “pode deletar” o Sanchar Saathi se quiser, mas “é nosso dever (do governo da Índia) introduzir (forçar a pré-instalação) do app a todos os cidadãos”. Esta é uma significativa mudança do discurso anterior, em que o aplicativo não poderia ser removido e permaneceria ativo o tempo todo.

Até o momento, a Apple não deu nenhuma declaração oficial sobre o caso, mas mesmo que o Sanchar Saathi passe a ser um app opcional, é muito improvável que a companhia ceda à exigência de que ele seja pré-instalado em seus iPhones; a companhia tem histórico, desde os primórdios, a não permitir que ninguém, sejam operadoras ou governos, atochem o gadget de bloatwares, e defendem que o usuário é soberano ao decidir o que instalar em seu gadget.

O Google, que pode ter que viabilizar a instalação automática do Sanchar Saathi via Play Store em aparelhos já em uso de outros fabricantes, também não disse nada sobre o assunto até o momento.

Fonte: Reuters, The Verge, 9to5Mac



Fonte: Tecmundo, Olhar Digital, MeioBit

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